Nota

Onde se comem retalhos

3 fev

A muvuca do Centro do Recife pode até fazer a gente esquecer dos lugares, mas o cheiro não deixa nada passar despercebido. Às vezes, meu dia começa com cheiro de biscoito entrando pela janela. Aliás, o assunto já rendeu post aqui.

Passar pela Rua da Imperatriz e não parar pra comer a melhor pizza do Recife só acontece quando a pressa fala mais alto. Há uns 10 anos, descobri a padaria que leva o nome da rua e mantém as mesmas funcionárias por esse tempo ou mais, algo difícil nos tempos de hoje.

O cheiro de pão quentinho é o ímã de quem passa na calçada do estabelecimento. A fila imensa do caixa (paga-se antes de comer) e a produção incessante de pizzas dão a unicidade daquele lugar que passou a ser um reduto para celebrarmos datas especiais. “Queremos 4 retalhos = uma pizza inteira!) e dois copos (!!!) de Coca”. Nham, nham… O próximo aniversário de namoro é terça-feira.

HISTÓRICO – A padaria Imperatriz foi fundada em 1875 por portugueses e mantém a tradição repassada para as gerações da família.

Moradores de Jardim Fragoso se sentem prejudicados com esquecimento da área

20 jan

 

Os cinco blocos do conjunto Residencial Jardim da Praia, na Rua Professor Diógenes Fernades Távora, em Jardim Fragoso, Olinda, Grande Recife, foram invadidos em julho do ano passado por 158 famílias integrantes do Movimento de Luta pelo Teto (MLT) e desocupados dois meses depois. Após a retirada das pessoas, o cenário de abandono se agravou. Na área do condomínio, a vegetação crescida toma conta da entrada e a piscina acumula lixo e água suja. Sofás deixados pelos antigos moradores ficaram acumulados nas garagens e servem ao uso dos cinco vigias plantonistas.

Há 18 anos desocupado e invadido duas vezes, mesmo com o vigia dentro, o edifício Alfredo Lopes, na Rua Antônio Martiano de Barros, é mais um na lista dos prédios interditados no bairro. Uma moradora de um prédio vizinho, que não quis se identificar, conta que o abandono dos prédios prejudica os outros moradores. “Esses prédios estão prejudicando a gente. É muita muriçoca. Vem gente de todo tipo. Isso ajuda a desvalorizar o local”, diz. 

A opinião do professor Antônio Gomes, 37 anos, proprietário de um apartamento na mesma rua, é semelhante. “O problema é que nem desapropriam nem derrubam. Não resolvem a situação dos prédios e ficam gastando desnecessariamente com vigilantes”, afirma. Segundo a seguradora, grande parte desses edifícios são objeto de ação na Justiça o que impederia a tomada de qualquer providência em relação à recuperação.

Em julho passado, foi a vez do Edifício Ana Amélia, no mesmo bairro, ser interditado. O prédio caixão começou a apresentar rachaduras e as 12 famílias que lá viviam abandonaram o local antes mesmo que fossem solicitados. À época, a Caixa Econômica Federal divulgou nota de esclarecimento aos moradores do prédio, informando que as famílias desalojadas receberiam ressarcimento relativo à perda dos imóveis. Em Jardim Fragoso, dois prédios, o edifício Éricka e o Enseada de Serrambi, do mesmo tipo, desabaram em 1999, resultando na morte de 11 pessoas.

Em 2010, convênio firmado entre os governos Federal, Estadual e prefeituras de cinco municípios da Região Metropolitana – Recife, Olinda, Jaboatão dos Guararapes, Paulista e Camaragibe – prometeu recuperar 340 dos quase seis mil prédios do tipo caixão com risco de desabamento, o que significa menos de 10% dos imóveis. A verba destinada seria de R$ 215,4 milhões.

Na falta de moradia, famílias ocupam prédios abandonados em Olinda

20 jan

Imagem

Vanessa Araújo*
Especial para o NE10

Um bairro fantasma de imóveis abandonados. O cenário é intrigante. Numa época em que o metro quadrado no Grande Recife pode chegar a R$ 4.946, uma verdadeira cidade fantasma se forma a olhos nus. Pelo menos essa é a impressão que se tem ao chegar a Jardim Fragoso, em Olinda, no Grande Recife. Com a interdição em massa de construções condenadas e o medo dos moradores de continuar em uma área onde dois prédios desabaram (Edifício Éricka e o bloco B do Conjunto Enseada de Serrambi), resultando na morte de 11 pessoas, Jardim Fragoso foi sendo, aos poucos, esvaziado. A falta de infraestrutura, com ruas esburacadas e sem calçamento, reduz a procura da área por novos moradores.

A Rua Professor Diógenes Fernandes Távora e as vias do entorno colecionam prédios interditados e já foram alvos de invasões de grupos de movimentos sociais. A situação das construções precárias se estende há mais de uma década, quando os moradores começaram a deixar as residências devido a interdições da Defesa Civil do município.

>> Veja galeria de imagens aqui

Os prédios são do tipo caixão e fazem parte da lista dos 107 edifícios interditados em Olinda. Ao todo, 6 mil construções de alvenaria estrutural (prédios-caixão) apresentaram problema no Estado. Segundo a prefeitura de Olinda, das edificações com risco de desabamento, 34 foram invadidas. Dessas, 26 já teriam sido desocupadas por meio de Ação de Desocupação do Imóvel.

Para evitar que os apartamentos sejam invadidos, a empresa responsável, a Caixa Seguros, colocou guarda e vigilância patrimonial nos prédios e está pagando auxílio-aluguel aos proprietários. Além disso, os principais acessos aos prédios foram fechados até o 2º andar. As medidas, no entanto, não foram obstáculos para que famílias inteiras se instalassem e continuem morando no Edifício Xingu, na Rua Bambu, um dos contemplados com as ações. 

Mesmo sem água nas torneiras nem energia, a família da dona de casa Andressa Silva, 20 anos, encontrou em um dos apartamentos moradia mais digna do que onde morava, na beira do rio. “Tenho três filhos e não temos para onde ir. Tenho medo de a polícia chegar e colocar a gente pra fora. Enquanto isso não acontece, a gente vai ficando e esperando que, um dia, as autoridades lembrem da gente”, diz.

*Com colaboração de Davi Barboza

Frio, vaidoso, visionário

17 jan

PERFIL Janguiê Diniz era pobre, ficou milionário, se diz vítima de inveja e identifica oportunidades como poucos

Cecília Ramos – Jornal do Commercio

“Laranja, picareta, mau caráter e metido com lavagem de dinheiro”. A lista de predicados foi feita por José Janguiê Diniz para enumerar o que ele sabe que falam dele. “E alguns dos que já me acusaram hoje tomam um vinho comigo. Não é engraçado?”.

O ar blasé, de quem leva pouco em conta o que os outros vão falar, é típico do empresário paraibano, de Santana do Garrote, que chegou ao Recife aos 14 anos, após viajar sete dias de Pimenta Bueno (Rondônia), para onde a família já havia se mudado. A viagem foi desacompanhada, de ônibus. O destino: o escritório de um tio advogado, Nivam Bezerra da Costa, seu único parente na capital, mas que nunca o tinha visto.

Disposto a vencer na vida, o menino José conseguiu trabalho com o tio e ganhava algum trocado para tarefas como datilografar. Foi morar em um galpão do parente na Rua Velha, no Centro do Recife, área que ele, três décadas depois, está dominando com a promessa de revitalizá-la, mas sem esconder seu objetivo central: lucrar. E muito.

Só este mês, Janguiê, fundador e acionista controlador do Grupo Ser Educacional – mantenedor das Faculdades Maurício de Nassau, Joaquim Nabuco, Fabac e do BJ Colégio e Curso – adquiriu dois edifícios, o Trianon e o Art Palácio, na Avenida Guararapes, onde já é proprietário de quase quatro prédios.

Janguiê é procurador do Tribunal Regional do Trabalho desde 1993. Está licenciado até setembro. E não vê conflito de interesses entre a função e os negócios. Ele recebeu o JC na terça-feira passada à tarde, em seu gabinete, num dos tantos edifícios do complexo da Maurício de Nassau, no Derby. De pronto, topou o pedido da reportagem de levá-lo para fazer fotos em seu mais novo xodó, a Guararapes. “Fui pego de surpresa! Só peço que a entrevista seja no trajeto para economizarmos tempo”, disse. Sem seguranças, apenas com uma assessora, Janguiê pegou os dois iPhones 4, pôs no bolso, e foi no carro do jornal até o Centro.

Solícito, fez poses a pedido do fotógrafo, desarrumou os cabelos compridos e lisos, diante do vento de final de tarde. Estava impecável, com calça social grafite, camisa preta e sapatos e cintos em um verniz reluzente. Tudo Hugo Boss. Ele também gosta de Armani e da sua coleção de relógios Mont Blanc. “Adoro me vestir bem. Escolho tudo”. Antes dos clicks, pediu uma pausa. Olhou para os seus prédios (três deles são instalações da Faculdade Joaquim Nabuco) e disse: “Dá orgulho ver meus prédios! Eu saí dali (apontou para a Rua Velha) e vim parar aqui!”.

De fato, Janguiê retorna ao bairro onde morou já tendo, aos 47 anos, amealhado uma fortuna pessoal ao fazer da educação profissional um grande negócio. Advogado, professor e escritor, o procurador é, acima de tudo, disseram afetos e desafetos, empreendedor nato.

Também na Guararapes comprou o lendário Bar Savoy. Vai virar Café Savoy, terá o famoso chope e cursos técnicos. “Desconfiado até da sombra”, contam alguns, Janguiê ressaltou que “não é da filosofia de ter sócio”. Dizem algumas línguas que no Café Savoy ele tem sociedade com Antônio Campos, Tonca, irmão do governador Eduardo Campos. O empresário desmente.

Janguiê está convicto de que empreender no Centro do Recife é uma grande sacada. “Estou investindo onde está o fluxo das classes C e D, ávidas pelo consumo”. De fato, em todo o País constata-se a expansão do consumo, impulsionado por esse público popular.

À reportagem, Janguiê pediu mais de uma vez: “Me ajude. Preciso que o prefeito João da Costa retire os ambulantes, pedintes das calçadas”. O empresário calcula que gastará mais de R$ 10 milhões para recuperar os Edifícios Trianon e Art Palácio.

“José Janguiê Bezerra Diniz é um engenheiro da educação no Brasil”, destacou o advogado e professor Inácio Feitosa Neto, 39 anos, em um artigo que virou prefácio de um dos dez livros que seu elogiado escreveu. Inácio é diretor acadêmico do Grupo Ser. A entrevista do diretor ao JC, por telefone, ocorreu um dia após boatos de que ele teria pedido demissão. Inácio negou e encerrou o assunto. “Estou afastado e ainda vou conversar com Janguiê. Independentemente de qualquer coisa, ele é muito meu amigo. Não tenho nada de negativo a dizer sobre ele”.

Inácio era aluno do jovem professor paraibano e tinha 21 anos quando o mestre chegou à sala de aula e perguntou quem queria trabalhar com ele. O aluno topou. E assim surgiu o Bureau Jurídico, pioneiro em cursos para concursos.

Mas o divisor de águas na vida financeira de Janguiê veio em 2005, quando ele ganhou a briga judicial contra a Universo, uma bolada de R$ 15 milhões, segundo o vencedor. Janguiê evita o episódio. “Não gosto de falar desse assunto, mas faz parte da minha vida”. O empresário conta que firmou uma sociedade com o então senador Welligton Dias (PMDB-MG), em 2000, para montar no Recife o campus da Universo. “Briguei com muita gente por essa instalação. A sociedade não deu certo. Eu saí em 2001”, resume.

Em 2003, ressurge Janguiê com a Maurício de Nassau. Em oito anos, construiu um império. O Ser tem 40 mil alunos em 11 unidades espalhadas no Recife, Paulista, Caruaru, João Pessoa, Campina Grande, Natal, Maceió, Fortaleza e em Lauro de Freitas (BA). Trata-se do 12º maior grupo no ranking de instituições educacionais do Brasil. O maior sonho do dono é fazê-lo ocupar o topo. Hoje, tem 36 cursos e outros 30 em avaliação no Ministério da Educação (motivo de constantes idas de Janguiê a Brasília). “Hoje sou amigo de Wellington, um grande educador e empreendedor. E não vou negar, o dinheiro (R$ 15 milhões), alavancou meus negócios”, admite Janguiê. Wellington não retornou as ligações do JC.

A expansão do império Janguiê Diniz mira a educação, mas o professor é pragmático e busca a diversificação. Em maio, comprou 50% da paraibana Vão Livre Indústria e Construções S.A., especializada na construção e montagem de edifícios em estruturas metálicas. Em Suape, já possui uma área para fazer um centro de logística. Também adquiriu 50% da Agência Um Comunicação e este mês fundou a consultoria Contexto Estratégia Política e de Mercado. “Pernambuco tem muito a ser desbravado, mas não tenho tempo! Eu queria viver 300 anos!”.

Janguiê se considera necessário, insubstituível até. “É um bicho para trabalhar”, dizem dele. Mas alguns ponderam: “É um grande empreendedor, mas não é um bom gestor. Não valoriza o mérito de seus funcionários. Muitos saem do grupo profundamente insatisfeitos”.

O próprio Janguiê faz uma autoavaliação: “Eu sou frio, individualista, mandão, racional, não me apego”. E atribui as inimizades que fez a esse perfil. “As pessoas querem carinho e afeto e eu não dou. Estou me policiando para melhorar. Mas a vida foi muito dura comigo. Fui empurrado para ser só. Note que falo muito eu, eu e eu. Não é por mal é porque a vida me ensinou a contar só comigo”.

O seu primeiro empreendimento, conta, foi um caixote para engraxar sapatos. Depois vendeu picolé e laranjas. E falando na fruta… A despeito da atmosfera de irregularidades que paira sobre Janguiê (sem nenhuma comprovação, diga-se), ele garante, com desdém: “É inveja”. “As oligarquias pernambucanas não aceitam uma pessoa que veio de fora, sem um nome tradicional e de origem pobre, construir um imenso patrimônio pessoal, intelectual e material”.

Filho mais velho do casal de analfabetos Lourdes e João, o menino José conseguiu formar-se em direito e letras, tem mestrado, doutorado e especializações fora do Brasil. Fala inglês e francês. Aos 25 anos, época em que estudava para o concurso de juiz (e passou), teve tuberculose. Quando conseguiu juntar dinheiro, trouxe os sete irmãos para Recife e os ajudou a se formar. Todos estão empregados no Grupo Ser. Jânio é o presidente. O tio Nivam faleceu há dez anos. A biblioteca da Nassau leva o nome do “tio-pai” em homenagem. Por fim, Janguiê trouxe de Rondônia os pais. Conta que eles se separaram e que sustenta duas casas, além da dele. Como se dinheiro fosse problema.

Janguiê gosta do que é muito bom. Persegue a exclusividade. Acaba de comprar um Audi A7 Sportback. Será o único no Recife a ter o modelo, que ainda chegará ao Brasil. Rivalizará com possantes como o Porsche Panamera. Também comprou, por alguns milhões de reais, recentemente, um jato Phenom, igual ao do governo de Pernambuco, modelo de sete lugares. Janguiê tem uma réplica do aviãozinho na estante do seu escritório, repleto de fotos da família, obras de arte e muitos diplomas na parede.

Ele já é dono de um avião King Air (8 lugares), um Mercedes 500 e uma motocicleta Triumph, “única no Nordeste”. Fora os carros do filho e da esposa. Todos têm segurança pessoal e os carros são blindados. Tem uma luxuosa casa de praia em Muro Alto, de 1,7 mil metros quadrados e 87 obras de arte e uma casa em Gravatá. Adora jogar futevôlei na praia e às 7h da manhã está na academia, com seu personal trainer. É casado com Sandra, que administra o BJ Colégio e Curso. O casal tem três filhos: Thales, 19 anos, estudante de direito e funcionário do Ser, Elora, 12 anos, e Mel, 9.

Em meio a quatro horas de entrevista, ao ser instado a falar de política, disse admirar do ex-senador Marco Maciel ao líder do governo Dilma Rousseff no Senado, Humberto Costa. Também dispensou elogios ao ex-prefeito João Paulo e ao governador Eduardo Campos.

Janguiê conta que o convidaram para ser suplente de senador nas eleições de 2010. Não revelou nomes, mas no bastidor, seria do senador Armando Monteiro. “Eu não topei. Já pensei em disputar, mas tirei isso da minha cabeça. E digo mais: não contem com Janguiê na política nos próximos dez anos”.

O empresário diz ter muita sorte, mas, sem nenhuma modéstia, ressalta: “Eu trabalhei mais, eu me esforcei mais do que todo mundo. Enquanto estavam na balada eu estava estudando”, finaliza.

Outubro de 2005

29 jun

Hoje, por acaso (ou não), digitei o endereço do blog errado. E tive uma surpresa maravilhosa! Era teu antigo endereço. Entre tantas confissões, encorajamentos e filosofias, encontrei uma relíquia cuja cópia em papel e lápis está bem guardada na minha caixa laranja do nosso mundo… Uma poesia, um presente. Era outubro de 2005. Nessa época, éramos amigos e sofríamos a distância que nos separava a 200 km. Estávamos descobrindo. Não poderia ter sido diferente… Te amo!

Saudade
Sentimento tão forte,
mas tão suave,
manso.
Tão calmo que,
às vezes,
grita bem alto.
Nos sufoca.
Falta do ar da amiga
Que se vai,
que se foi.
Cordas que se entrelaçaram
talvez ao acaso.
Ou, talvez, com uma finalidade.
Falta que faz o espaço
ficar imenso demais.
Maior que o alcance de um abraço.
Mas no fundo,
a verdadeira mágica
está além disso.
A saudade torna
a nossa distância
menor que a de um braço.
A mesma que separa
O meu pensamento
de onde você está agora:
no meu coração.

(Wesley)

O ciclo vicioso da aprendizagem

26 jun


Entramos no carro e o silêncio costumeiro foi quebrado quando ele disse: “Minha filha, estou numa luta danada. Se eu conseguir sair dessa, posso dizer que sou guerreiro igual a você!”

Meus olhos marejaram. Minha voz não teve forças suficientes pra responder que é ele o maior exemplo a ser seguido e que eu apenas reproduzo a vontade de seguir em frente. E ainda tenho muito a aprender…

Erradicar a fome não é zerar

4 jun

Dói pensar que alguém chega a morrer de fome. E mais ainda saber que mais de 16,2 milhões de pessoas vivem com até R$ 70 per capita mensalmente no Brasil, que hoje ocupa a  posição de 7ª maior economia do mundo.

Só em Pernambuco, 15,7% da população vivem em codições de pobreza extrema, segundo um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Isso quer dizer que mais de 1,3 milhão de pessoas sobrevivem no Estado com essa renda. A maioria está concentrada nas áreas urbanas.

por Arnaldo Carvalho/ JC Imagem

Foto: Arnaldo Carvalho/ JC Imagem

O Bolsa Família é apresentado pelo governo como a principal estratégia para erradicar a fome no país. Só que erradicar não é zerar. Estatisticamente,  se o  Governo Federal conseguir retirar 15 milhões de pessoas da linha da pobreza extrema até 2014, o Plano Brasil sem Miséria, que foi lançado nessa quinta (2), terá cumprido seu papel. Isso quer dizer que se ainda UM MILHÃO de brasileiros continuarem sobrevivendo com até R$ 70, a fome estará erradicada. Infelizmente, aqui, as estatísticas não são suficientes para mostrar as reais necessidades das pessoas.

Seguindo a tendência nacional, a maior parte da população pernambucana que vive em pobreza extrema são crianças de zero a 14 anos. Elas representam 39,7% do total das que se encontram nessa situação. Do ponto de vista da cor ou raça, foi constatado que a maioria dos pernambucanos que vivem em extrema pobreza no meio urbano é parda (61,3%).

Os números apontam para a necessidade de direcionamento de políticas públicas que devem ser focadas na transferência de renda, inclusão produtiva e melhoria no acesso a serviços básicos.  O acesso às necessidades básicas, como uso de banheiro exclusivo, esgotamento sanitário, abastecimento de água, energia elétrica e coleta de lixo, apesar de ainda estar longe do ideal, está mais avançado em relação aos parâmetros nacionais.

CRITÉRIO – O conceito de pobreza extrema foi definido como o estado de privação de um indivíduo cujo bem-estar é inferior ao mínimo que a sociedade a qual ele pertence julga obrigada a garantir.

Heleno, um colecionador de música antiga

27 abr

Foto: Vanessa Araújo/NE10

Heleno coleciona LPs e vitrolas

É difícil imaginar que, em uma comunidade desprovida de infraestrutura básica, seja possível encontrar uma espécie de museu da música. Na Rua Tancredo Neves, no bairro de Dois Unidos, Zona Norte do Recife, Heleno “da Música Antiga” guarda com zelo relíquias de discos de vinil de artistas nacionais que fizeram sucesso anterior à década de 80. Dos seus 77 anos, mais da metade foi dedicada a adquirir as obras e vitrolas dos mais diversos modelos.

Ao chegar ao portão da casa do colecionador, um manequim bem vestido, estrategicamente colocado de frente para a entrada, avisa a chegada do visitante: “Heleno, o portão tem gente, vá atender”. Encomendada no município de Santa Cruz do Capibaribe, no Agreste do Estado, a boneca ajuda os moradores da residência, que têm problemas auditivos, a saber quando há alguém na porta. A morada simples, que divide com a companheira Rosita, mostra em todos os cômodos a paixão do colecionador. Fotos com cantores e matérias de jornais dos ídolos estão expostas nas paredes da sala. Os discos, guardados nos armários espalhados pela casa.

Registrado como Heleno Ferreira dos Santos, passou a adotar a alcunha “da Música Antiga” depois do primeiro nome após a contribuição que deu para o livro Jackson do Pandeiro – o rei do ritmo, de autoria de Fernando Moura e Antônio Vicente. A obra relata a vida e obra de Jackson, com quem teve contato desde o início da carreira do artista.

Nascido em Bezerros, tem mais recordações da infância vivida na cidade vizinha, em Riacho das Almas, ambas no Agreste pernambucano. Ainda jovem, mudou-se para o Recife, sozinho, em busca de emprego. Trabalhou como motorista e mecânico, tendo ingressado no Exército e, posteriormente, na Polícia Militar. Da PM foi desligado, segundo conta, devido a um desentendimento com o dono de um bar. O homem não quis atendê-lo; ele insistiu. Não chegou a brigar. “Disse só que eu era homem, só não era na casa dele”. O comerciante entendeu a frase como uma ameaça e acionou a polícia.

SONHO – A vida de Heleno foi marcada por privações e muita força de vontade. Quando jovem, só teve oportunidade de se alfabetizar. Teve que assumir cedo as responsabilidades de adulto para sobreviver. Tentou aprender a tocar sanfona e pandeiro, mas acabou vendendo os instrumentos por achar que não possuía talento.

“Se tivesse oportunidade de estudar, queria mesmo era aprender música”. Mas o conhecimento sobre a música veio por outro caminho. Assim que conseguia dinheiro, ia ao Centro do Recife comprar discos e biografias de artistas.

É na música que o colecionador encontra um refúgio para os problemas e a recordação do passado. “Se tenho um sonho ruim ou fico doente, coloco uma música e esqueço tudo o que passou e me alegro”, conta. Só para a coleção de mais de 40 discos que ele possui do cantor Jackson do Pandeiro já foram oferecidos R$ 4,5 mil. A proposta foi recusada sob alegação de que o valor sentimental não tem preço. Atualmente, segue à procura de um disco do cantor Jorge Veiga em que canta a música O Padroeiro do Brasil. “Estou a disposto a pagar R$ 100 se encontrar”, conta.

Amigo da família de Jackson do Pandeiro, Heleno manteve contato com a esposa do artista, a também cantora Almira Castilho, por muitos anos. Com ela, planejava colocar em algum museu parte das relíquias que guarda. Os planos foram parcialmente interrompidos com a morte da artista, no último mês de fevereiro, no Recife. Mas a ideia continua na cabeça de Heleno, “mesmo sabendo que esteja mais perto da morte”.

Não se fazem mais crianças como antigamente… [2]

13 fev

Parque Aquático está para crianças assim como lixo está para pinto. Já viu criança gostar tanto de água fria quanto num local como esses?

Pois bem. Eu e Bobelino havíamos acabado de chegar no Veneza. O céu da manhã, no início, deu sinais de “querer chover”, como dizemos em Cachoeirinha. Assim que trocamos de roupa e saímos para aproveitar os brinquedos do parque, eis que começa a chover.

Ora, por que as pessoas correm da chuva dentro de um parque onde o que mais interessa é a água?

Um menino de mais ou menos quatro anos se banhava em um brinquedo que jogava de cima para baixo o líquido de forma semelhante àquelas mangueiras de lava-jato. Começa a chover. Ao ouvir os gritos desesperados da mãe, o garoto corre em direção a ela. Porém, inconformado.

– Pedro Neeeeeeto, sai da chuva!

– Mas mãe, ali também não chove?, questionou espertamente, apontando para o brinquedo.

Não se fazem mais crianças como antigamente…

2 fev

Passar uns dias de férias em Cachoeirinha sempre rendem boas risadas e, consequentemente, boas histórias, que fico com vontade de compartilhar, mas com preguiça de escrever. Fazia tempo que eu não me deliciava com a companhia dos meus irmãos.

Bruno tem agora seis anos e já foi personagem de outros relatos neste Relógio de Sol. Rostinho redondo, sorriso e senso de humor contagiantes. Conhecido pelas suas habilidades com aquilo que é good e nóis num have, o menino me impressionou quando o vi falando dos tipos de jogos do Pôquer. É, meu irmão sabe jogar. Participa de partidas na Internet. E ganha.

Bia já é uma mocinha (linda, diga-se de passagem!). Domingo, a chamei para passear e comer pizza… Mas ela não quis. Fiquei sem entender. Ela estava “amuada” e não explicou o motivo da recusa. Mais tarde, quando voltei, perguntei novamente o porquê de não ter ido conosco. A resposta? Ela mesma disse: “frescurês”. Ai, a adolescência…

Nos dias anteriores, passei várias horas com Manu e Mari, as gêmeas de cinco anos. Levei um livro para cada. Manu guardou como se fosse o melhor presente que já havia recebido. Já Mari, esperneou, gritou: queria o livro da outra. Tão parecidas, mas tão diferentes!

Mari é daquelas crianças espertas que aprende as coisas rápido e tem um desejo imenso de crescer. Não sabe ela o que a espera nesse mundo de adultos… Já Manu aproveita a idade como se tivesse noção de que tudo só se vive uma vez.

Certa noite, antes de dormir, as duas brincavam de casinha. Quando passei pelo quarto para desejar “boa noite”, Mari olha para o espelho e diz: “Eu já queria ser do teu tamanho”. Ao que Manu, de imediato, questiona: “Vanessinha, é bom ser gente grande? Eu acho que não. Gente grande sofre…”